O que é o Xamanismo?

 Actualmente quando a maioria das pessoas ouvem a palavra xamanismo pensam nas culturas indígenas americanas.

O xamanismo não se refere apenas à espiritualidade indígena. É certo que os indígenas foram os grandes responsáveis por manterem acesas as chamas da Medicina da Terra mas as práticas originaram-se no homem primitivo, no paleolítico.

A palavra xamanismo foi criada por antropólogos para definir um conjunto de crenças ancestrais.

A palavra tem origem siberiana e não americana e é usada hoje como uma forma única para descrever as práticas em todo mundo. Ou seja, as práticas são universais, é um legado do Mundo Espiritual para a Humanidade.

As raízes do xamanismo são arcaicas e alguns antropólogos chegam a pensar que elas recuam até quase tão longe quanto a própria consciência humana. As origens do xamanismo datam de 40.000 a 50.000 anos, na Idade da Pedra. Antropólogos têm estudado xamanismo nas Américas; do Norte, Central, Sul. Também na África, entre os povos aborígenes da Austrália, Esquimós, Indonésia, Malásia, Senegal, Patagónia, Sibéria, Bali, Velha Inglaterra e ao redor da Europa, no Tibete onde o xamanismo Bon segue a linha do Budismo Tibetano, ou seja, em todos os lugares ao redor do mundo. Seus traços estão presentes nas Grandes religiões.

Para mim é um caminho de conhecimento. Nós podemos perceber traços do xamanismo em várias religiões mas por mais que se tente, o xamanismo não se explica; vive-se.

O Xamanismo é a mais antiga forma e prática espiritual, de busca de conhecimento e de poder pessoal conhecida no mundo, precedendo todas as filosofias e religiões, pois, se xamanismo fosse uma religião teria sido a primeira.

 

O xamanismo é uma técnica do êxtase, um conjunto de procedimentos para exercitar o controlo das experiências vividas pelo xamã. Não é um culto, mas um conjunto de crenças, práticas e técnicas ancestrais que utiliza o simbolismo da cultura das pessoas que o praticam. O trabalho xamânico é realizado com o apoio do tambor, maracas, canções e com objectos de poder como pedras, plantas, penas e outros.

O interesse pelas práticas xamânicas advém do contacto com outras realidades, da obtenção de auto-conhecimento, da busca de poder pessoal e seu desenvolvimento, da profundidade e rapidez dos seus resultados consoante o trabalho empregue.

Através destas práticas, o indivíduo estabelece contacto com outros planos de consciência, a fim de obter conhecimento, equilíbrio e saúde. O Xamanismo propicia tranquilidade, paz, confiança em si mesmo, profunda concentração, estimula o bem-estar físico, psicológico e espiritual.

A prática do Xamanismo é um caminho espiritual de busca de conhecimento para além da realidade quotidiana, em harmonia com a natureza e com os ciclos da vida. As visões e experiências do praticante levam-no a uma expansão da consciência, possibilitando-lhe profundas transformações.

O xamanismo é uma grande aventura mental e emocional, onde tanto o curandeiro como o paciente ficam envolvidos. Através de sua heróica viagem e de seus esforços, o xamã ajuda seus pacientes a transcenderem a noção normal e comum que tem a cerca da realidade, inclusive a noção de si próprios como doentes.

O xamanismo representa o mais difundido e antigo sistema metodológico de tratamento da mente e do corpo que a humanidade conheceu.

No xamanismo, a manutenção do poder pessoal é fundamental para o bem-estar. A prática do xamanismo exige autodisciplina e dedicação. O xamã é capaz de mover-se entre os diversos estados de consciência.

O conhecimento xamânico verdadeiramente importante é o que se experimenta, não pode ser obtido a partir de outro. O xamanismo é uma estratégia de aprendizado pessoal e de acção segundo esse aprendizado.

O xamanismo é precisamente uma das técnicas arcaicas do êxtase, ao mesmo tempo mística, magia e religião, no sentido amplo do termo.

O xamanismo é um sacerdócio que requer não só verdadeira mística da faculdade mágica, mas também o envolvimento total de um ser responsável pela alma humana. Ele seria, assim, ao mesmo tempo uma religião sem dogma e uma profissão de utilidade pública, conciliando um conhecimento intuitivo e pessoal com a necessidade de agir.

O xamanismo deve, pois, ser entendido como a sobrevivência clandestina de crenças ancestrais de que são testemunhas numerosos documentos pré-históricos do Paleolítico (e nada nos impede de pensar que essa tradição é ainda mais antiga).

Xamanismo não é um sistema de crenças. Ele é um caminho de conhecimento obtido através da experiência de muitas facetas da vida, através de rituais, cerimónias, preces e meditação, provas e testes.

O xamanismo foi o precursor de algumas das principais religiões das sociedades mais estruturadas, tais como o Budismo, o Taoísmo, o Zoroastrismo e o Tantrismo. Poder-se-ia dizer que estas religiões representam um xamanismo modificado e que, por sua vez, afectaram as tradições xamânicas continuadas ou marginalizadas, nas culturas que dominaram.

 

 

A ocorrência do xamanismo variou de sociedade para sociedade. Nos casos clássicos o xamã era o "homem sagrado", o foco religioso solitário da tribo. Noutras culturas, o xamanismo estava mais espalhado, mesmo entre os membros vulgares da tribo; sessões cerimoniais definidas ocorriam em meios em que toda a gente tivera a experiência mística de seus aderentes privilegiados.

O xamanismo, tanto na sua forma mais primitiva quanto na mais moderna, recupera o aspecto democrático da vida espiritual: as forças subtis da natureza manifestam-se em experiências espirituais. Cada dimensão da realidade está disponível àquele que realiza o esforço de aprender a prática da viagem e os diferentes meios de consegui-lo. Assim a via xamânica permite o indivíduo a viver uma experiência directa.

O xamanismo pode ser definido como uma família de tradições cujos praticantes concentram-se em entrar voluntariamente em estados alterados de consciência, nos quais vivenciam a si ou ao seu espírito viajando par outras dimensões, sob comando de sua vontade, interagindo com outras entidades a fim de servir sua comunidade.

 

Pode – se considerar o xamanismo como a verdadeira arte de viver, pois, ao observarem o ciclo da natureza e suas manifestações, os antigos xamãs puderam perceber sua conexão com o Todo. Desta forma, abriram-se para o aprendizado daquilo quem realmente somos e tornaram-se capazes de elevar a consciência e se relacionar com outras realidades e dimensões, assim como manter plena e perfeita harmonia com a natureza, possibilitando a total integração de seus corpos físico, mental, emocional e espiritual.

 

Muita Paz,

Mário Cardeal