O que é a Estrada Xamânica

 

Um caminho natural, um caminho de sintonia com a Terra, com a Vida, com a Natureza enquanto força viva e consciente do Universo.

Estar em harmonia com os fluxos da vida é algo que os caminhos xamânicos têm todos eles em comum, sejam eles quais forem, seja em que latitude ou quadrante Terrestre.

As divindades do xamanismo não são divindades antropomorfizadas, são forças da natureza em interacção connosco, que interagem directamente com o Homem e este com elas, criando laços em sintonia com o Divino e com o divino de cada um.

Ao lidar com estar forças não devemos limitá-las à nossa programação, mas procurar senti-las como realmente são, sem projectar medos ou fantasias sobre as mesmas, sem criar expectativas ou submete-las há mente subjectiva.

Quando o xamanismo surge?

Há duas vertentes de xamanismo.

O xamanismo que é o caminho dos povos nativos de cada continente.

É complexo explicar esse caminho, podemos dizer que todo povo nativo sempre teve uma profunda sintonia com a Terra, com a Vida e assim foi até que chegaram as ideias separatistas, de superioridade do ser humano sobre tudo mais. Entenda-se esta superioridade no sentido em que o homem isolou-se da obra Divina, por acreditar estar acima das outras espécies que, no fundo, não é mais do que a manifestação do seu ego e, este, colectivamente.

Nós que somos uma parte, um fio da trama da vida, da vida Universal, nos julgamos seus tecelões e condenamos toda a espécie a outro tipo de vida, a esta vida que se encontra presente em todo o lado, em todas as direcções. Pensamos ser o expoente máximo da criação enquanto não passamos de criancinhas as estagiarem nos primeiros anos da escola primária e, alguns infelizmente, a aprenderem a dar os primeiros passos na cresce.

Quando falo nós, coloco a cada um de nós, pois se ainda estamos presos a este tipo de realidade desarmoniosa é porque pactuamos de alguma forma com os que criaram tais modelos. Todos nós somos responsáveis, sem excepção, do estado evolutivo em que nos encontramos.

O pactuar da subserviência perceptiva. Perceptiva do que nos rodeia exterior pois, desconhecemos o nosso mundo interior porque, se assim não fosse, decerto que já despertaríamos para a realidade.

Nós limitamo-nos a sentir apenas um modelo da realidade, a que nos impuseram. Cegamente acreditamos naquilo que nos impõem como modelo a seguir, como se, de facto, fosse a verdade absoluta. Embarcamos no que nos dizem sem, tão pouco, pararmos para reflectir sobre a realidade que nos impõem. Toda a história relata este facto. Sejam os governos, as religiões, os partidos políticos, todos querem que pensemos segundo um padrão preestabelecido.

Contudo esquecemos frequentemente que somos entes perceptivos.

Percebemos a realidade à nossa volta e ela é viva, auto consciente e se apresenta em diversas facetas.

Para os povos ditos nativos que, no fundo são naturais, a vida e a natureza, as estações do ano, os animais, as plantas, os rios, lagos e mares, os campos e montanhas, vales, flores, árvores, cada momento da existência é um mistério em si e assim também são singularidades vivas e auto conscientes.

Nós somos um momento singular da vida e da consciência da Eternidade e, sobretudo, do próprio Universo. Somos um Todo indivisível com tudo o que existe quer queiramos ou não. Somos uma peça que se encaixa no puzzle da Criação. Somos parte integrante da Criação mesmo que não aceitemos tal facto. Se não aceitarmos isso o que fazer? Que posso fazer? Não aceitarmos esse facto é tão absurdo como não aceitar que necessito de ar para respirar. Não é por não aceitar que somos um momento singular da vida e da consciência da Eternidade que deixemos de o ser.

Nas plantas, nos animais, nas montanhas, rios, nuvens, em todos os reinos da natureza, enfim num sem número dos hoje chamados "fenómenos naturais" sentimos que os processos de sinergia e de homeostase estão ali também presentes noutras progressões e também em frequências do espectro além de nossos sentidos ordinários. Todo cresce, tudo tem movimento e tudo pulsa. A vida, toda ela pulsa. Tudo que tem vida tem energia e esta pulsa continuamente. E, nesta categoria, também insiro os metais e os minerais, as rochas, penedos e pedras. Entendo que este pulsar constante seja a respiração Divina que sustenta a Existência mas, infelizmente, o Homem foi encaminhado a utilizar somente os seus sentidos físicos levando, desse modo, ao esquecimento dos seus verdadeiros sentidos que são os extra-sensoriais.

De certo que a palavra “extra-sensorial” surgiu nalgum período mais ou menos recente. Alguém que se recordou que em tempos o Homem tinha a capacidade de viver em verdadeira comunhão com o Todo através de si próprio, através de todas as suas faculdades e, esquecendo-se de utilizar os seus sentidos mais subtis, acabou por os perder do mesmo modo que quando não utilizamos determinada coisa ela acaba por se deteriorar. E ao criar esta palavra acabou por criar uma dicotomia no próprio Ser Humano. Criou a barreira, a separação da totalidade dos nossos sentidos. Então dividiu-os em duas classes: sentido ordinário e extra-sensorial.

Porém, é pelo pleno desenvolvimento e atenção destes sentidos ditos ordinários que podemos ir além deles. Podemos começar por eles e partir em busca dos outros sentidos perdidos, procurando desse modo a integração completa do sentir em todos os aspectos.

Alguns caminhos xamânicos perceberam que existe duas formas onde podemos nos desenvolver.

Indo aos mundos de energia, existindo aqui e, também aqui, em diferentes realidades.

Ou existindo aqui e lá, noutro plano, mas dentro desta realidade.

Obtendo tal consistência existencial e tal subtileza, que também pelo existir abre uma passagem, como a singularidade cria a abertura no tecido espaço temporal gerando um vórtice, uma entrada.

Somos seres pensantes, sensíveis, capazes de agir, embora por vezes reagimos mais do que agimos, por nossa desventura.

Mas temos preferido raciocinar, emocionarmo-nos e reagir.

Tem sido assim por muito tempo, desde que os “conquistadores” chegaram trazendo seus modos de vida, suas ilusões e ideias fixas, suas inquisições, suas culpas e seus medos, ódios, raivas e receios.

Esta foi a pior arma trazida, a pior peste das muitas que trouxeram para a Humanidade.

“Escravizadores” aprenderam a não apenas manter o corpo servil, agrilhoado, mas também a própria essência do Ser.

E os cultos de culpa, medo e subserviência a figuras estereotípicas, geradas a partir dos medos e carências comuns, tornaram-se comuns e de uma forma ou outra deixam seus rastros em todos nós. Todos somos vitimas do mesmo mal. Fomos escravizados, castrados dos nossos sentidos, sentimentos, reflexões.

Suas algemas que limitam e impedem a plena expansão do que somos, a plena expressão da nossa singularidade, da nossa individualidade, da nossa riqueza interna.

Falar de xamanismo antes de lançar luz sobre esse mundo, sobre esse assombramento onde, infelizmente, está o lixo que nos deram como doutrinação existencial, seria lançar nutrientes no solo onde existe a árvore que quero plantar mas também a que não quero.

Lavrar a terra antes de plantar, fertilizar progressivamente e água, sempre muita água, pois, a água é o elemento das emoções e devemos ser mais emocionais que racionais em muitos aspectos da nossa existência.

O Xamanismo é também exotérico e esotérico.

Se assistir ritos dos xamãs herdeiros das tradições nativas que ainda existem verá um aspecto do rito, o exotérico, a manifestação na sua forma mais profunda e marcante.

Poderá criar interpretações baseadas nas suas próprias informações, oriundas de um meio cultural completamente distinto do qual provêm. Interpretações essas que serão subjectivas, carregadas com os seus conceitos, crenças e forma de pensar.

Depende de nós, da nossa forma de interagirmos e respondermos aos desafios.

Reagir não é o mesmo que responder.

Neste contexto chamo reagir o acto reflexo de gerar um comportamento, seja emocional, intelectual ou em reacção física, em virtude de um estímulo externo. Dizem que uma acção leva a uma reacção. Eu, pessoalmente, discordo, pois, é verdade que isso acontece mas, não menos verdade que acontece somente àqueles que ainda não têm domínio sobre si mesmo. Se sempre que alguém faça algo para reagir e você reage então não é dono de si próprio. Não passa de uma marioneta nas mãos dos outros. Peço-lhe, por favor, não reaja; aja! E agir é com reflexão, é com consciência, é com todo o seu Ser, é com o comando da situação em que se encontrar.

Responder é interagir, agir em conjunto com a totalidade à sua volta, tendo seu próprio centro singular de atitudes. Esteja sempre centrado sem nunca perder a visão periférica. Esteja centrado e concentrado (com centro) em todos os seus actos e pensamentos.

Pensar o mundo, sentir o mundo, agir no mundo é algo que se perdeu em muitos povos, em todos os continentes. Os que detém o poder não querem que sejamos universalistas mas sim nacionalistas. Querem que sejamos nacionalistas porque esta é a melhor forma de nos controlar segundo os seus padrões e interesses. O que é mais fácil? Guiar um rebanho de duzentas ovelhas ou de dois milhões? É criando a separação que nos limitam a encontrar a Verdade e a unificação. Pense no seguinte; o mundo é governado por quantas pessoas? Qual a população mundial? No fundo as regras do jogo são feita por meia dúzia de pessoas que criam essas regras para seu próprio proveito. Porque existe fome e guerra em Africa? A quem serve isso? Porque o Islão e os muçulmanos são tão atacados? A quem serve isso? A mim não é decerto, pois, procuro a Totalidade e a universalidade, união de todos os meus irmãos!

Recuperar uma extensão maior em perceber o mundo permite-nos perceber também que podemos mudar nosso modo de estar inseridos no mundo e na sociedade.

Esta é a proposta central do Xamanismo em que acredito. Não posso conceber um xamanismo desunificador. Não aceito um xamanismo onde alguns detenham a verdade absoluta, onde querem passar uma imagem desfocada da realidade.

O Xamanismo existe muito antes de mim, é algo que sempre existiu e não é nada de novo. Xamanismo não é crença, não é religião e, sobretudo, não é dogmática. É vivência, é sentir, é fluir, embrenhado em tudo o que existe, em todas as formas de energia, em todas as formas existenciais.

Precisamos urgentemente mudar nossa visão do mundo que nos rodeia, precisamos de uma visão baseada na Verdade e não numa imagem desfocada da realidade.

Homens e mulheres sábios (as) de todos os tempos tem procurado sua "visão pessoal" um caminho complexo, um rito progressivo até que a visão pessoal é revelada e a forma de existir muda. Quando se encontra centrada, bem enraizada e busca a sua “visão” tudo em si muda. Muda em si e no que se encontra à sua volta.

Podemos todos fazer parte de um projecto de crescimento, de procura interior, da procura da visão que conduza a algo maior.

Não é, de forma alguma um recuo mas, sim, uma reconexão com o Todo. E entenda que reconexão quer dizer tornar-se a conectar o que implica que já esteve conectado e deixou de estar. Deixou de estar a partir do momento em que permitiu ser “escravizado”.

É pertinente que se desconecte-se de tudo que está imposto como realidade e que se reconecte ao ancestral modo de sentir, pensar e agir no mundo.

Juntando isso à nossa experiência do quotidiano, podemos usar o mundo para nosso campo de treino, um lugar onde temos o desafio de realizar o que representa uma vida com qualidade e harmonia, em coerência com nossa concepção da realidade, com a nossa verdade e não a verdade que nos querem impor.

Estaremos prontos quando tivermos morrido para nossos velhos estilos de raciocinar, de emocionarmos, de reagirmos, que chamamos de "eu", quando sairmos da forma em que nos formataram.

Que fique bem claro que não significa tornar-se insensível ou cínico à vida como muitos interpretam, que se torne irresponsável, egoísta, não. Bem pelo contrário que se torne Humano.

O sentimento é muito subtil em relação à emoção, por isso para os padrões emocionais da maioria pode parecer que o sentimento seja frio, insensível, mas o sentimento tem uma profundidade sensível, uma realidade existencial que nos permite interagir com a realidade dentro de paradigmas mais amplos.

Para melhor exemplificar o que estou a dizer dou-lhes como exemplo a gentileza. Quando somos gentis não podemos esperar nada em troca, no acto de ser gentil ou mesmo bondoso. Não há expectativa de retorno, é apenas o resultado da acção que se almeja, ou seja a acção em si mesma, sem se preocupar com futuros resultados. Infelizmente, a maioria, quando pratica esta acção fica a aguardar o retorno por parte do ou dos beneficiados. Ficam ofendidos se não houver retorno o que demonstra que, no fundo, não praticaram a acção por si só mas a pensar no retorno. O que, em termos práticos, não fizeram por fazer mas, sim, procurando uma recompensa. Logo não foram nem gentis nem bondosos; foram interesseiros!

A energia de actos desapegados é tremenda na própria estrutura da realidade. Somos geradores de actos e cada acto é mágico e único.

Os Zen e Taoistas vivem a chamar a atenção sobre este facto. Cada acto, cada mínimo acto é mágico, cada acto é sagrado, não há nada que seja "não sagrado" na esfera dos actos.

Ficar a racionalizar, ficar presos a estados emocionais ansiosos e cheios de medos e angustias, ou rancorosos e carregados de auto piedade é algo que as pessoas gostam bastante, embora de formas diferentes, chafurdam nessa lama dia após dia, ao longo da vida.

O xamanismo é uma proposta que tem um lado exotérico e um esotérico como já referi.

O esotérico é pouco revelado, pouco comentado, muito deturpado, mas existe, como um diamante no centro da Terra, um diamante vivo e pulsante que está a ser "germinado", núcleo do qual nascerá a nova vida.

Temos o dever, mais não seja moral, de sermos guardiães da Terra, nós todos, homens e mulheres que caminham a estrada do xamanismo, nas suas muitas trilhas diferentes, mas todas no mesmo sentido: Somos partes da Vida e é dela que vem nossa força e sustento.

Este pacto de nossa espécie com a vida e com a Terra foi rompido há eras atrás por pretensos líderes da humanidade que pactuaram entre eles, de grande poder, ao qual tudo volta ao final. O Homem, o grande predador, senhor todo-poderoso, tem vindo a destruir a sua própria casa. Tornou-se egocêntrico o que levou a perder a sua religiosidade natural e, também, com a natureza.

Falar de algo noutra Era é falar de algo noutro tempo, noutra pulsação do Tempo.

Tudo era diferente ali.

Nas areias egípcias herdeiros dos antigos ainda praticavam sua arte/ciência/magia. Naquela época eram muito mais avançados do que nós. Tinham conhecimento como alterar as propriedades da matéria, como criar campos anti gravitacionais, o seu conhecimento, ainda hoje, para nós carregados de tanta tecnologia, situa-se no campo do mistério. Onde foi parar esse conhecimento?

Fluir com os ciclos, mudar para permanecer, isto é subtil, mas funciona.

Houve uma ancestral civilização planetária, distinta desta nossa, tão distinta que suas realidades só conseguem ser lembradas como mitos.

Deste tempo mítico emanou-se esse tempo da existência no qual vivemos, homens e mulheres conduziram pacientemente a humanidade para outro ponto possível de concernência perceptiva, o ponto onde temos a racionalidade e todo esse mundo que temos por real.

É interessante entender isto, foram homens e mulheres que perceberam outra possibilidade existencial para a humanidade e nos trouxeram, num trabalho sequenciado e continuo através de Eras, para outra abordagem da realidade, para o mundo racional, onde os mitos são coisas abstractas e distantes.

Perdemos a consciência do nosso propósito em relação ao Todo. Cegamos com o brilho do nosso ego colectivo. Chegando ao máximo desse estado a humanidade estagnou.

E cá estamos nós, humanos, presos no ponto máximo da racionalidade, com uma realidade fixa e de complexa plasmação à nossa volta.

Uma das Artes dos(as) Xamãs tem sido recuperar essa fluidez perceptiva.

Primeiro aprender essa complexa e útil arte que é fixar o ponto de aglutinação num conjunto de emanações da eternidade.

Esta arte de manter a percepção dentro de um conjunto organizado de fibras da Eternidade é admirável, é o que nos permite interagir de forma compreensível com outras realidades e com os entes destas outras realidades, também eles nossos irmãos.

Mas na nossa Era estamos também interessados em recuperar algo desse estado mítico que existia no tempo dos nossos ancestrais.

A grande estrada do Xamanismo tem sido para nós esse resgate do tempo mítico, levando connosco os prémios dessa jornada que fizemos enquanto espécie ao reino da razão e dos mundos como este a que chamamos, por enquanto, de realidade.

A antiga arte/ciência/magia veio pelos antigos, e que chega até nós pelos povos nativos que ainda restam sem serem corrompidos pela dita evolução, o que nos conduz para um ponto de extrema importância. Será que a antiga arte/ciência/magia é dos nativos? O cerne, o núcleo, a essência desta arte/ciência/magia não é dos nativos, não é de ninguém, vem de antes, vem de um tempo antes desse tempo, é a herança secreta deixada pela civilização planetária que há imprecisos 12.000 anos atrás deixou essa condição da realidade.

A essência de uma Tradição não pertence a nenhum mundo, é pura substância essência, força mítica, energia sem similar na existência. É a transmissão dessa força viva e actuante, de vida para vida, de boca para ouvido, de gesto, forma e som, cor e acto que demonstra a realidade viva de uma tradição. Sentir o toque mágico do mito é tornar-se mito. Somos seres míticos, temos de recuperar essa nossa condição em facto, efeito e acto.

Mas temos que estar muito atentos para que algo portentoso, algo transformador for encontrado, porque necessita obrigatoriamente de sobriedade para que não caíamos na armadilha do poder, de renunciar a Liberdade Total pela busca do infinito desconhecido.

Por norma o Xamã, e porque não dizer todos nós, buscamos a Eternidade e procuramos compreender o que ela é. Mas, ao lado da busca da Eternidade, encontra-se a procura da Liberdade que dá sobriedade a quem trilha os caminhos do Xamanismo.

Assim permanecer livre de pactos e promessas, de prémios e recompensas, é contemplar serenamente as maravilhas e mistérios, o deslumbre e os inquietantes paradoxos da Eternidade, é algo que exige tremenda disciplina e força de vontade.

A qualidade de nossas vidas responde se estamos em busca da Eternidade ou apenas fugindo de nossa vida quotidiana, fugindo do nossos mundo interior.

O xamanismo procura curar a Terra.

Mas, para isso, precisamos curar a nós próprios da paranóia esquizofrénica existencial que nos faz crer serem mais importantes os objectivos que nos foram impostos do que os objectivos transcendentes. E, neste ponto entra outro problema de comunicação, pois muitos usam desta afirmação referida para justificar sua inabilidade em lidar coerentemente com o mundo à sua volta.

Eu considero que uma inserção efectiva e realizada no mundo é condição fundamental para saber se nossas habilidades estão realmente operacionais para então nos defrontarmos com as outras condições de realidade que o caminho xamânico nos apresenta.

Eu tenho um paradigma, jamais transmito conhecimento profundo para quem não está integrado no aqui e agora. Falo das coisas mais sérias em tom de brincadeira. Transmito conhecimento em forma de histórias, de parábolas. Saindo do nada, à mesa durante uma refeição, poderei transmitir algo surpreendente. Porque não ouvem? Porque não percebem? Porquê que só alguns ouvem e percebem? Porque estavam integrados no aqui e agora. Porque a sua maturidade psicológica já estava apta para a compreensão daquilo que lhes estava a ser transmitido!

Escrevo alguns textos que, no fundo, é a minha forma de pensar. Outros textos escrevo-os para passar conhecimento pois, o conhecimento não me pertence exclusivamente a mim. Entendo que o conhecimento deva ser universal e não ficar com algumas pessoas. Mas também entendo que tenho de ser responsável em relação a quem o passo. Conhecimento acarreta responsabilidade.

A arte/ciência/magia que herdamos de nossos ancestrais é para os (as) que procuram a evasão desta realidade por superação, não por medo, não como caminho de fuga da responsabilidade de auto conhecimento ou de outra situação qualquer.

Não acredito em quem não se resolveu consigo mesmo, são sempre pessoas perigosas, a si e aos meios onde se encontram inseridas. São pessoas que hoje são tudo, poderão chegar ao pé de si e dizer meia dúzia de disparates de rajada, como por exemplo, “já mais o esquecerei…”, “estou grata pelo que fez…”, durante o resto da minha vida serei sempre tua amiga…”, “podes contar comigo sempre para o que for necessário…”. Tenha muito cuidado com estas pessoas, pois, elas não têm noção do que dizem, não têm consciência da força da palavra porque ainda não se auto resolveram. Podem-se encontrar num processo de cura, mas ainda não estão curadas. E o maior perigo reside quando aos primeiros “sinais de melhoras” julgam-se curadas. Procedem como o doente que deixa a medicamentação aos primeiros sinais de melhoras; têm uma recaída. Com estas pessoas é a mesma coisa, pois, também elas têm recaídas. Pensam que já estão curadas e lançam-se, por auto recriação, em aventuras que, na verdade, não as levam a lado nenhum, salvo, para a ilusão.

Precisamos estar em harmonia connosco para podermos harmonizar a Terra.

Viver xamânicamente é o primeiro desafio da estrada do Xamanismo.

Aqui não podem haver duas vidas, dois pesos e duas medidas, aqui temos a coerência de nossos actos, livres ou presos(as), senhores(as) de si ou servos(as).

Embora um(a) xamã aprenda a viver muitas vidas numa, cada uma delas é única e final em si mesma.

Estas são algumas palavras que demonstram a minha forma de pensar e, conforme referi acima, só alguns perceberão a mensagem, para outras espero que estas palavras escritas sejam insights profundos na sua percepção.

Acredito seriamente no potencial de cada um. Acredito seriamente que um dia a Humanidade possa despertar.

 

Muita Paz

Mário Cardeal