Amanhecer de um Xamã
Tudo é energia! Irradiada pelo Grande Espírito aos Quatro Ventos, tomou as mais variadas formas. Todos nós vivemos das energias uns dos outros, interagindo, modificando, em trocas recíprocas, contínuas, ou através de apropriações consciente ou inconscientemente, com autorização ou sem ela. Todos os seres alimentam-se da energia de outros seres. A vida para manter-se viva precisa da morte! E a morte é apenas um veículo nessa troca de energias. Porquanto a morte é companheira da vida e, as duas, irmanadas, lutam contra a não vida. São como as asas de um pássaro. Faltando-lhe uma delas, não consegue voar; ambas são como irmãs que muito se amam e jamais poderão ser separadas! Será possível conciliarmos uma mente especulativa, lógica, racional, com um coração xamã? Esta é a grande esperança: recuperar a beleza poética de uma fé racionalizada que possa ser a grande ponte para interligar esse despenhadeiro. Convivendo entre as descobertas da Internet, facebook e outros meios de comunicação, com sua mente aqui previdente, aguçando seu sentido reptilário na busca até a última resposta! O seu coração entrementes, refugiando-se lá, antes da linha divisória, nas pradarias, nos rios e lagos, nas matas, florestas, sonhando com as montanhas e adorando o Sol... Olho nos meus olhos e vejo inquietações. Sei que são difíceis as transformações, porque estou cercado de artificialidade gerada pela sociedade. Como retornar uma vida voltada para energias naturais? Será negativo tentar uma mudança idealizada. Ser xamã não é mudar-se para o campo abandonando sua forma actual de ser. Se desejas viver o xamanismo, não sonhes com coisas impossíveis, abandonando para o nunca uma atitude que podes tomar a partir de hoje. Para se viver xamanismo, terás que construir uma nova postura perante a existência, com humildade; a vida não é uma mera relação social entre seres humanos. É uma soma na universalidade de todos os seres. Afinal não somos sonhadores, como muitos afirmam; somos sim realizadores de sonhos, somos co-criadores; aqueles que são capazes de falar com pássaros, e outros animais numa aldeia de cimento que convivendo com pessoas artificiais, vulgares nos seus anseios utilitários, interesseiras frente ao consumismo global, possuem uma visão de unidade com a essência e que são capazes de se emocionar com as belezas dela. Belezas que estão presentes em todas expressões da natureza. Dizem que os xamãs têm um pouco de neurose, psicose, esquesitose. A bem da verdade os xamãs não têm nada disso; são muito mais lúcidos do que apresentam. Então porque pensam que são esquizofrénicos ou desequilibrados mentalmente? Apenas porque são diferentes da maioria. E aqueles que são diferentes são considerados perigosos, esquisitos. E são considerados esquisitos por não terem um comportamento padrão generalizado como seria de esperar. E as pessoas temem aqueles que fogem ao controlo das massas. Temem porque sabem que não os podem controlar e têm medo por não têm domínio sobre eles. As suas reacções são sempre uma surpresa! Olho nos meus olhos e vejo inquietações. Inquieto-me a perguntar onde me leva esta estrada que percorro… até onde? Não me interessa e isso acalma-me; apenas confio. Tudo é energia irradiada pelo Grande Espírito aos Quatro Ventos. Entrego-me e deixo-me levar por um dos quatros ventos. Há dias que dou conta que estou com o vento norte, outros com o do oeste, com o do sul e do este. Como um tufão percorro-os todos. Vivo em espiral, remoinho, abraçando as quatro direcções. Umas vezes sou Serpentes, outras Águia e, por vezes, Urso. Quando sou Coiote uivo à Lua em agradecimento. Louvo-a pela sua bondade, pela sua energia feminina que me ajuda no equilíbrio.
Muita Paz Mário Cardeal |